segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Netos e avós: a importância dessa relação

Resultados de novas pesquisas reforçam que a convivência entre crianças e idosos é benéfica para ambos os lados



A maioria dos animais vertebrados morre pouco tempo depois do fim da fase reprodutiva. Os humanos, mesmo muitos anos após deixar de ter filhos, continuam vivos e, ao que tudo indica, isso acontece justamente para que possam ajudar seus próprios filhos a cuidar dos filhos deles. A ciência reconhece que os idosos contribuem muito com a sobrevivência dos mais novos.

O que diz a ciência
Uma nova pesquisa sobre o assunto foi realizada pela Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos.  Os cientistas elaboraram uma hipótese de que os avós com a mente saudável aumentam as chances de sobrevivência dos filhos de seus filhos porque, assim, são capazes de transmitir a eles seus conhecimentos e habilidades. Como um reforço à teoria, eles procuraram e conseguiram identificar em vários genes mutações relativamente novas que protegem contra doenças neurodegenerativas como o Alzheimer, que costuma aparece em pessoas idosas. 

Segundo os cientistas, parece estar havendo uma seleção natural diante de nossos olhos. Ou seja, as pessoas que têm esses genes vivem mais (porque estão protegidas contra as doenças neurodegenerativas) e, consequentemente, conseguem colaborar mais com a criação dos netos, pois estão saudáveis.

O fato de os avós não terem mais filhos pequenos para cuidar permite que eles tenham tempo e condições de ajudar nos cuidados com os netos, contribuindo para a sobrevivência das novas gerações, além de passar conhecimentos e sabedoria. No entanto, os avós deixam de ter essa utilidade se apresentarem doenças como o Alzheimer. Assim, parece que as variantes de genes que protegem contra a demência estão sendo selecionadas nos seres humanos.

Os benefícios da convivência
Não é preciso muito esforço para notar como a interação entre netos e avós é positiva. Durante 19 anos foram estudados 374 avós e 356 netos. O objetivo era entender a influência dessa convivência, tanto na vida das crianças, como na dos idosos.

Os resultados revelam que os dois lados se beneficiam desse relacionamento. Para os avós, a conexão permite contato com uma geração muito mais nova e, consequentemente, uma abertura a novas ideias. Para os netos, os idosos oferecem a sabedoria adquirida durante a vida – e esse conhecimento acaba sendo incorporado pelas crianças quando elas se tornam adultas. Os avós também costumam passar às novas gerações muitas histórias sobre o passado, o que é enriquecedor para qualquer criança. Além de tudo isso, os pesquisadores também concluíram que a relação avós-netos pode ajudar a diminuir sintomas depressivos para ambas as partes.
A convivência é muito benéfica para ambos, especialmente porque os avós estão, na maioria das vezes, em uma etapa da vida em que podem aproveitar os netos melhor do que aproveitaram os próprios filhos: levar para passear e brincar, para os avós, não é uma obrigação ou uma forma de gastar a energia da criança, mas uma oportunidade deliciosa de curtir o neto e se divertir de verdade com ele.

Não há limite para os encontros entre avós e netos – desde que os momentos de descanso dos avós sejam respeitados. Mas e quem mora longe?  A tecnologia pode dar uma boa ajuda. Com celular, mídias sociais, computador e um pouco de esforço, os avós podem participar melhor da vida dos netinhos distantes.

Fonte: Revista Crescer 


segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Estudante cria luva especial para controlar tremores de Parkinson

Aparelho usa giroscópios, dispositivos similares aos usados em satélites, para manter mãos firmes.


Um estudante de medicina do Imperial College de Londres criou uma luva que ajuda os pacientes com mal de Parkinson a manter a firmeza das mãos.  Usando giroscópios - mecanismos similares usados para manter a estabilidade de satélites no espaço - o dispositivo tenta controlar os tremores típicos de pacientes da doença.

Segundo Faii Ong, o inventor do aparelho, a vontade de criar algo que ajudasse vítimas do mal de Parkinson surgiu quando ele participou da equipe que cuidava de uma paciente de 103, parte de seu treinamento. Após elaborar diversos projetos, o estudante criou uma startup, e junto com outros colegas conseguiu levantar a verba para montar os primeiros protótipos do aparelho.

Giroscópios são pequenos discos de metal postos em rotação para conservar posição por meio do princípio físico de conservação de momento angular. Um objeto em rotação tende a permanecer rodando em torno do mesmo eixo e reage a forças que tentam deslocá-lo.

A ideia de usar esse tipo de mecanismo só veio após teste outras abordagens, como elásticos, molas, ímãs e outros componentes para controlar os tremores.

Segundo a GyroGear, startup criada para desenvolver o produto, testes de bancada mostram que a luva especial, batizada de GyroGlove, foi capaz de reduzir a amplitude dos tremores em 80%. Esse grau de eficiência permitiria a vítimas de casos mais graves da doença voltarem a escrever, usar talheres e fazer café usando o invento.

Demonstrando protótipos, Ong já venceu três concursos de startups, que o ajudaram a capitalizar a GyroGear. A revista Technology Review, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), diz que o inventor ainda busca resolver alguns problemas finais asssociados ao produto, mas que a GyroGlove tem previsão de entrar no mercado em setembro de 2016, com preço estimado entre 550 e 850 dolares.

Fonte: G1

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

O que vou ser quando envelhecer?

Por Bárbaba Semerene
Desde criança eu ouvia as pessoas dizerem que sou distraída. Vivia no meu mundinho particular, das ideias, sem prestar muita atenção no espaço físico ao meu redor. De fato, a cor da parede ou o material dos móveis nunca me chamaram muito a atenção. Mas, na verdade, eu não era distraída, apenas focava meu olhar nos seres humanos e gostava de elocubrar como devia ser estar na pele deles. Principalmente na dos mais velhos, como que para imaginar o que me aguardava logo ali na esquina da vida.

Observava o meu pai organizando as contas da casa, correndo para nos levar para a escola, para a aula de natação, para o curso de inglês. Conversando na mesa do almoço sobre política enquanto assistia ao jornal. Negociando com o gerente do banco a melhor aplicação para organizar sua poupança para a compra de um carro e para nossos estudos no exterior. Aquilo tudo me parecia tão árduo. Eu pensava: "como deve ser difícil ser adulto, acumular tantas responsabilidades. Será que eu vou conseguir me organizar assim, administrar tudo isso?". Uma vez até expressei este raciocínio em voz alto para o meu pai. Ele sorriu e disse "a gente tem que dar conta, aos poucos vamos acrescentando novos compromissos e nos habituamos a eles".
As expectativas foram quase todas preenchidas: vivi com intensidade e paixão a juventude, e hoje profissional casada e com filho, continuo achando difícil organizar todos os setores da vida. Talvez eu não tenha sido capaz de dar um novo olhar, no presente, para o cenário que havia vislumbrado previamente.


Hoje eu estava no banheiro da minha academia, onde tem muitas senhoras da terceira idade. Parei para observar seus movimentos lentos trocando cada peça de roupa que vestia sua pele flácida. Calcinha e sutiã beges. Penteavam cuidadosamente os cabelos grisalhos. Com a calma de quem não tem mais filhos pequenos esperando para serem cuidados, nem adolescentes que precisam ser vigiados. Com a calma de quem talvez não tenha nem mais marido, nem uma casa movimentada para administrar. Com a calma de quem não tem mais chefe para dar satisfação, nem trabalho para tocar. Calma.
Tive sentimentos ambíguos em relação à próxima esquina por onde vou passar (na melhor das hipóteses). Há algum tempo talvez eu sentisse medo ou pesar. Mas ando tão exausta desta vida frenética, que já há alguns anos tenho aprendido a desassociar estar sozinho e em paz de sentir-se solitário, e a distinguir calma de tristeza. Talvez possa haver, sim, alegria na tranquilidade. Deve haver certo alívio quando se sente praticamente obrigada a viver mais lentamente. Mais do que não ter mais forças para correr, não se tem mais pressa. Isso pode ser libertador depois de anos de labuta, de urgências, de prazeres e desprazeres intensos.

Então, antes de me permitir ter pena da vida que eu quase julguei "vazia de sentido" dessas senhoras, tento imaginar a preguiça que elas devem sentir só de olhar para mim correndo para me aprontar, tentando secar os cabelos, ao mesmo tempo que contorço o pescoço segurando o celular com os ombros para dar algumas ligações urgentes, e saindo ofegante, acelerada, sem mal ter tempo de dizer "até logo", para não perder a hora de chegar no escritório. Saí da academia satisfeita em pensar que estou me preparando para ser uma velhinha feliz. Porque cada fase deve ser vivida em sua inteireza. 
Fonte: Brasil Post

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Idoso é o novo desafio para indústria da moda

"Eu estou vestindo uma bermuda e por isso as pessoas olham para mim espantadinhas", conta Marilda Ferraz, 75. Um vestuário à altura da vida atarefada é algo que mulheres como ela, acima dos 50 anos, consideram imprescindível. Mas não costuma ser uma tarefa simples encontrá-lo. A velhice, se não chega a ser um tabu para a indústria da moda, é praticamente ignorada por ela.

"Tomamos cuidado com o corpo, com o cabelo, com a maquiagem. Mas na moda existe um exagero: ficamos com cara de velhinha, ou então de velhinha querendo parecer menina", diz Marilda.

O Instituto de Estudos e Marketing Industrial de São Paulo (Iemi) faz pesquisas de mercado nos setores de vestuário, calçados e móveis para que os lojistas entendam melhor o comportamento do consumidor. Algumas dessas pesquisas apontam maior participação de pessoas acima dos 65 anos no setor da moda. Não houve um aumento só na população de idosos, mas também em seu poder de compra. Existe uma predisposição para que os idosos se tornem a grande fatia do mercado a partir de 2030.

Marilda vai ao cabeleireiro, dirige, trabalha e consome. "Eu me sinto integrada à sociedade. Daqui a algum tempo, tudo o que faço, que hoje ainda é considerado surpreendente, será visto com naturalidade", diz. Ela se refere não só ao envelhecimento da população brasileira, mas também a uma mudança no perfil da terceira idade.

Pedagoga há 40 anos, Marilda divide a semana entre São Paulo, onde trabalha e pratica ioga, e sua cidade natal, Guaxupé (MG), onde vive o marido. Percorre o trajeto de 300 km de ônibus. "Minhas amigas trabalham para complementar a aposentadoria e fazem cruzeiros para todo canto." E avisa as mais novas: "Quando chegar a vez de vocês, terão muito mais obrigações".
Apesar de todas essas mudanças, o desenvolvimento de vestuário voltado para esse público ainda é um movimento embrionário na indústria da moda.

Segundo Patricia Sant'Anna, 37, pesquisadora do Grupo de Estudos em Arte, Design e Moda da Unicamp, esse público alvo é muito difícil de satisfazer. "O cliente não pode ser chamado de velho. Temos que reinventar um nome, uma ideia de elegância e propor isso de maneira sutil. Não querem ser excluídos do universo da moda e nem uniformizados por um figurino da terceira idade."

O estilista Ronaldo Fraga, 45, diz que não existe moda para terceira idade. "Era muito comum senhorinhas entrarem na loja e dizerem que iam comprar roupa para suas netas. Mas, na verdade, estavam comprando pra elas mesmas."

Em 2009, Fraga fez a coleção Risco de Giz que foi apresentada na São Paulo Fashion Week por idosos e crianças. Para ele, o desfile significou mais: "Vivemos num país tão jovem que uma pessoa se torna invisível para a sociedade depois que faz 65 anos. O que nós estamos fazendo com os nossos velhos? Como queremos envelhecer?".

O fashionista americano Ari Cohen retrata senhoras de Nova York com um estilo diferenciado em seu blog Advanced Style (estilo avançado, em tradução livre) e comenta: "A indústria da moda está aberta a todos. As mulheres mais velhas que eu conheço ainda fazem compras e lêem revistas de moda. A publicidade pode ainda tentar convencer as pessoas de que ser jovem é melhor, mas eu acho que usar modelos mais velhas diria algo de bom sobre a qualidade da marca." Ronaldo Fraga concorda. "Se a moda não quiser olhar para os idosos pelo olhar humanizador, de inclusão, que seja pelo econômico: A indústria está comendo mosca."

Fonte: Folha Uol