"Eu estou
vestindo uma bermuda e por isso as pessoas olham para mim espantadinhas",
conta Marilda Ferraz, 75. Um vestuário à altura da vida atarefada é algo que
mulheres como ela, acima dos 50 anos, consideram imprescindível. Mas não
costuma ser uma tarefa simples encontrá-lo. A velhice, se não chega a ser um
tabu para a indústria da moda, é praticamente ignorada por ela.
"Tomamos
cuidado com o corpo, com o cabelo, com a maquiagem. Mas na moda existe um
exagero: ficamos com cara de velhinha, ou então de velhinha querendo parecer
menina", diz Marilda.
O Instituto de
Estudos e Marketing Industrial de São Paulo (Iemi) faz pesquisas de mercado nos
setores de vestuário, calçados e móveis para que os lojistas entendam melhor o
comportamento do consumidor. Algumas dessas pesquisas apontam maior
participação de pessoas acima dos 65 anos no setor da moda. Não houve um
aumento só na população de idosos, mas também em seu poder de compra. Existe
uma predisposição para que os idosos se tornem a grande fatia do mercado a
partir de 2030.
Marilda vai ao
cabeleireiro, dirige, trabalha e consome. "Eu me sinto integrada à
sociedade. Daqui a algum tempo, tudo o que faço, que hoje ainda é considerado
surpreendente, será visto com naturalidade", diz. Ela se refere não só ao
envelhecimento da população brasileira, mas também a uma mudança no perfil da
terceira idade.
Pedagoga há 40 anos,
Marilda divide a semana entre São Paulo, onde trabalha e pratica ioga, e sua
cidade natal, Guaxupé (MG), onde vive o marido. Percorre o trajeto de 300 km de
ônibus. "Minhas amigas trabalham para complementar a aposentadoria e fazem
cruzeiros para todo canto." E avisa as mais novas: "Quando chegar a
vez de vocês, terão muito mais obrigações".
Apesar de todas
essas mudanças, o desenvolvimento de vestuário voltado para esse público ainda
é um movimento embrionário na indústria da moda.
Segundo Patricia
Sant'Anna, 37, pesquisadora do Grupo de Estudos em Arte, Design e Moda da
Unicamp, esse público alvo é muito difícil de satisfazer. "O cliente não
pode ser chamado de velho. Temos que reinventar um nome, uma ideia de elegância
e propor isso de maneira sutil. Não querem ser excluídos do universo da moda e
nem uniformizados por um figurino da terceira idade."
O estilista Ronaldo
Fraga, 45, diz que não existe moda para terceira idade. "Era muito comum
senhorinhas entrarem na loja e dizerem que iam comprar roupa para suas netas.
Mas, na verdade, estavam comprando pra elas mesmas."
Em 2009, Fraga fez a
coleção Risco de Giz que foi apresentada na São Paulo Fashion Week por idosos e
crianças. Para ele, o desfile significou mais: "Vivemos num país tão jovem
que uma pessoa se torna invisível para a sociedade depois que faz 65 anos. O
que nós estamos fazendo com os nossos velhos? Como queremos envelhecer?".
O fashionista
americano Ari Cohen retrata senhoras de Nova York com um estilo diferenciado em
seu blog Advanced Style (estilo avançado, em tradução livre) e comenta: "A
indústria da moda está aberta a todos. As mulheres mais velhas que eu conheço
ainda fazem compras e lêem revistas de moda. A publicidade pode ainda tentar
convencer as pessoas de que ser jovem é melhor, mas eu acho que usar modelos
mais velhas diria algo de bom sobre a qualidade da marca." Ronaldo Fraga
concorda. "Se a moda não quiser olhar para os idosos pelo olhar
humanizador, de inclusão, que seja pelo econômico: A indústria está comendo
mosca."
Fonte: Folha Uol
Nenhum comentário:
Postar um comentário