Dieta dos idosos precisa de menos água e terra para
ser produzida
Se toda a população brasileira fosse composta por pessoas de 60 anos ou
mais, o Planeta agradeceria. Pelos cálculos do técnico do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea) Camillo de Moraes Bassi, a dieta menos intensiva em
proteína animal dos mais velhos faria o país economizar 14 mil quilômetros
quadrados de terra, o correspondente a um terço do Estado do Rio, e 3,5
trilhões de litros de água, o suficiente para atender a 45 milhões de pessoas
por um ano. O estudo faz parte do livro “Novo regime demográfico: Uma nova
relação entre população e desenvolvimento?”.
— A dieta do idoso é menos intensiva em
recursos naturais. Se o objetivo é poupar água, deve-se pensar na dieta
alimentar. Com o envelhecimento da população, diminui a apropriação de água, de
espaço físico e se reduz a emissão de gases de efeito estufa. Essa nova
composição etária da população gera padrões de consumo mais sustentáveis —
afirma o pesquisador
Para chegar aos números, Bassi separou
o consumo alimentar retratado na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do
IBGE, por idade: de 19 a 59 anos e 60 anos.
— Os mais jovens têm uma alimentação mais
concentrada em carne e leite. Para se produzir um quilo de carne bovina são
necessários 19 mil litros de água. O sustento de um boi consome 1,5 milhão de
litros de água por ano.
O presidente da Sociedade Brasileira de
Geriatria e Gerontologia, João Bastos Freire Neto, concorda que há uma queda no
consumo proteico dos mais velhos, mas alerta que a dieta está aquém do
necessário porque o grupo precisa, sim, de muitas proteínas, inclusive as de
origem vegetal, que podem substituir as de origem animal.
— Há um problema de subnutrição dos
idosos, não só no Brasil, mas no mundo todo. Ofertar uma alimentação de
qualidade é um grande desafio — diz.
‘ENVELHECERAM A
VELHICE’
Aos 88 anos, Iva Gomes de Matos tem uma
dieta mais frugal. Nordestina, estava acostumada à comida mais pesada do
Nordeste, o que criava dificuldades na hora de lidar com as empregadas. Por
isso, ela preferiu morar num retiro em Jacarepaguá.
— Vim para o Rio há 47 anos, sempre me
acostumei a fazer a comida parecida com a do Nordeste. Mas hoje em dia como
mais verduras e frutas.
Se a dieta poupa recursos naturais, os
gastos com saúde, por outro lado, crescem. Isso porque entre os mais idosos há
incidência maior de doenças crônicas, que precisam de tratamento contínuo, como
diabetes e problemas circulatórios e cardíacos. Mas, como afirma a pesquisadora
Ana Amélia Camarano, organizadora do livro, “envelheceram a velhice”, e os
idosos estão vivendo mais e melhor. É o caso da pintora Zélia Lopes, de 82
anos. Ela se aposentou da Petrobras aos 54 anos para cuidar do marido doente e
se reinventou após a morte dele, há 24 anos. Estudou arte e fez da pintura sua
profissão. Hoje, há telas suas espalhadas por várias galerias da cidade.
As doenças isquêmicas do coração são as
que mais internam e mais custam ao Estado. Elas respondem por 53% do valor
gasto nas internações, de acordo com estudo dos pesquisadores Alexandre
Marinho, Simone de Souza Cardoso e Vivian Vicente de Almeida, presentes no
livro. O número de dias de internação atesta que a população idosa é a que mais
fica nos leitos hospitalares.
Freire Neto diz que o idoso brasileiro
convive, ao mesmo tempo, com as doenças crônicas e com as infectocontagiosas
ainda não erradicadas do país, como a dengue. E diz que é preciso criar um
calendário de vacinação de idosos que inclua doenças como pneumonia e
complicações causadas pelo vírus da catapora:
— Nosso cuidado com o envelhecimento
está muito atrasado. Até temos políticas de saúde do idoso bem formuladas,
falta saírem do papel. E, se não fizermos isso hoje, como vamos conseguir daqui
a 10 ou 15 anos, quando a força de trabalho jovem estará menor e a produção de
riquezas, mais restrita?
Nenhum comentário:
Postar um comentário