Envelhecimento acelerado da população fará metade da força
de trabalho ter mais de 45 anos em 2050
A população brasileira
vai começar a diminuir em 2035. Diante desse novo regime demográfico, teremos
uma força de trabalho menor e mais envelhecida. Os efeitos dessa mudança no
crescimento da economia serão fortes: se continuarmos com o mesmo volume de
investimentos de hoje, a expansão do país se limitará a 1,5% ao ano na década
encerrada em 2050. Para expansão mais forte, o esforço é grande. Para alcançar
um crescimento perto de 3% ao ano, o Brasil precisará chegar em 2050 investindo
48,7% do seu Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços). Ou seja,
será preciso triplicar o que se investe hoje, segundo um dos estudos do livro
inédito “Novo regime demográfico: uma nova relação entre população e
desenvolvimento?”, organizado pela economista Ana Amélia Camarano.
“Para chegar a esse nível de
crescimento, o investimento precisa aumentar cerca de 6% ao ano até lá. No
cenário que consideramos mais viável, com expansão pouco acima de 2%, a taxa de
investimento teria que ser próxima de 30% do PIB. Se fizermos reformas
suficientes para aumentar a poupança interna, poderemos chegar a esse patamar”
— afirma o pesquisador do Ipea José Ronaldo de Castro Souza Júnior.
E com o desafio de aumentar a
produtividade da força de trabalho. Teremos 100,5 milhões de trabalhadores
disponíveis, um pouco abaixo do número de 2013, de 102,5 milhões, mas a
composição por idade desse contingente é bem diferente. Em 2050, 52,4% dos
trabalhadores terão 45 anos ou mais. Hoje, essa parcela é de 33,8%. A idade
média da força de trabalho vai subir de 37,3 anos para 44,3 anos.
Assim, a taxa de atividade, que é quanto
da população de 15 anos ou mais está no mercado de trabalho, cairá de 63,7%
para 56%, diante do envelhecimento da população. Se as mulheres aumentarem a
sua participação para ficar igual à dos EUA hoje, ainda assim a taxa de
atividade será menor que hoje, caindo para 60,1%.
Um dos caminhos para aumentar a força de trabalho pode ser atrair imigrantes.
Segundo Ana Amélia, as Nações Unidas criaram o conceito de imigração de
reposição exatamente para levar mão de obra a países que estão perdendo população:
“Temos 70 países perdendo população, 14 deles na América Latina. Há países com
muitas restrições para imigração.”
Naercio Menezes Filho, coordenador do
Centro de Políticas Públicas do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa, afirma
que a imigração seria “importante para suprir o mercado”: “Seria um caminho
interessante. Nossas leis são muito restritivas. A imigração ainda é muito
tímida.”
Do lado dos trabalhadores, o
secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, teme essa
opção: “O risco é haver uma pressão das empresas para mudar a legislação e
atrair imigrantes jovens. Temos que nos preparar para garantir o emprego dos
brasileiros mais velhos. O crescimento menor não
representará redução no nível de bem-estar. O PIB per capita poderá subir mais
que o PIB. A expansão de 1,5% vai significar alta de 1,9% na renda per capita,
já que a população na década de 2040 cairá cerca de 0,4% ao ano.”
Para a renda per capita aumentar 1,9%
em 1970, era preciso o país crescer 5%. As empresas já começam a se preparar
para esse novo regime demográfico. A Confederação Nacional da Indústria, por
meio do Sesi, já instalou seis centros regionais de inovação, dedicados a
problemas que afetam os trabalhadores mais velhos, como doenças
cardiovasculares.
Por: Cassia Almeida e Nice de Paula