O envelhecimento faz parte do desenvolvimento do
ser humano. Porém, para algumas pessoas, estar perto de idosos ou identificar
em si mesmo marcas de que o tempo está
passando – como rugas – pode ser assustador. A gerontofobia caracteriza a
rejeição à velhice e, consequentemente, aos que estão passando por ela.
De acordo com o psiquiatra Marcelo Betinardi, os
motivos que levam a essa recusa variam muito, já que dependem das experiências
do indivíduo com a velhice e de como o idoso é tratado por quem está a sua
volta ao longo dos anos. “Um dos temores do ser humano é a morte, e a velhice é
um prenúncio dela. Ao ver esse estágio da vida se aproximar, a pessoa percebe que há
finitude e começa a negá-la, tentando não deixar que isso aconteça com ela,
seja com exercícios físicos ou cirurgias plásticas, por exemplo”, diz.
Ainda, sem registro no CID-10 (Classificação
Internacional das Doenças), a gerontofobia não é considerada diagnóstico. No
entanto, é possível percebê-la na conduta do indivíduo. “Chamamos de fobia
porque é um medo excessivo e desproporcional ao risco oferecido por tal coisa.
No caso, o envelhecimento. Pessoas que discriminam idosos, que estão
preocupadas demais com a aparência, adultos que se comportam como jovens são
exemplos. É claro que não podemos generalizar, pois um conjunto de fatores é
que vai determinar se o que você tem é gerontofobia ou não”, explica Dinah
Akerman, psiquiatra pela USP (Universidade de São Paulo).
No romance “O Retrato de Dorian Gray”
(1890), de Oscar Wilde, é possível explicar esse temor: na história, um
retrato do protagonista “envelhece”, enquanto o próprio Dorian Gray se mantém
jovem. Não existe uma idade para despertar esse sentimento, que é inconsciente.
Mas, a partir de certos momentos,
quando começamos a perder pessoas próximas ou mesmo quando vemos nossos pais
envelhecerem, e isso significa o nosso próprio envelhecimento, nos deparamos
com o fim da ilusão de que a vida é eterna. Muitas pessoas não sabem lidar com
as mudanças que cada fase traz, começam a pensar de forma fixa em como será a
sua velhice, e é aí que está o problema.
Apesar de não existir uma idade certa para a fobia se manifestar, alguns acontecimentos podem influenciar. Não é regra, claro, mas mulheres que estão perto dos 30 anos e ainda não casaram ou tiveram filhos começam a se achar velhas. Já para os homens, esse sentimento vem pelo lado profissional, quando não conseguem o status desejado. O que as pessoas precisam entender é que o que conta é o estado de espírito de cada um. Precisamos nos sentir ativos, sempre com algo a oferecer e compartilhar, seja com 30, 60 ou 90 anos.
Assim como a maioria dos traumas e doenças
psicológicas, o medo de envelhecer também só é caracterizado como um problema
quando existe prejuízo psicossocial progressivo. Ou seja, quando a preocupação
em ficar velho atrapalha a vida e prejudica o indivíduo. Segundo os
especialistas, o estigma ligado às pessoas mais velhas está diretamente
relacionado à gerontofobia. Basta observar como os idosos são tratados nas
diversas partes do mundo. No oriente ou em tribos indígenas, por exemplo, são
sábios; já no ocidente, são vistos como pessoas que dão trabalho, lenta. Isso
tudo gera recusa porque ninguém quer passar por isso.
Diante de um cenário de medo de chegar à terceira
idade, é preciso observar que, além de ser uma etapa do ciclo da vida, entrar
na velhice traz mudanças, assim como qualquer outra passagem, como, por
exemplo, da infância para adolescência, e assim por diante. A primeira vantagem
que devemos perceber é que, se chegamos à velhice é porque estamos vivos. Todos
os momentos de passagem têm coisas boas e ruins. O envelhecimento traz questões
para serem vividas. É preciso saber envelhecer.
Fonte: Coisa de Velho
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