O aumento radical da
expectativa de vida mudará a cara do mundo nas próximas décadas – e isso deverá
transformar em imensas oportunidades para as economias e para as empresas
Há no mundo cerca de 340 000 centenários. Em quatro décadas,
o número deverá subir para 3,2 milhões. E isso será só o começo. Metade das
crianças que nascem hoje em países ricos ou nas camadas mais abastadas dos
emergentes deverá passar dos 100.
“Estimo que estejamos acrescentando 2,5 anos
por década. Ou seja, a cada hora, ganhamos 15 minutos”, diz o economista Ronald
D. Lee, professor da Universidade da Califórnia, em Berkeley, e um dos
demógrafos mais respeitados do mundo.
Se, além desses avanços mais tradicionais, os
cientistas conseguirem viabilizar tratamentos revolucionários que “atrasem”
nosso relógio biológico, não está descartada a hipótese de um ser humano viver
até 150 anos — pelo menos no terreno da teoria.
O fenômeno do aumento da expectativa de vida,
aliado à queda dos índices de natalidade, mudará a cara do mundo. Segundo os
dados mais moderados, até 2050 as faixas etárias acima dos 50 anos passarão do
atual 1,5 bilhão de indivíduos para 3,1 bilhões. Já a população de crianças e
adultos jovens crescerá bem menos.
Em quatro décadas, as pessoas com 50 anos ou
mais serão mais da metade da população na Coreia do Sul e no Japão. Será,
enfim, um mundo grisalho. E não se trata de exclusividade de países ricos. China e Rússia estarão em
uma situação semelhante — no Brasil, as pessoas com mais de 50 serão 42% da
população em meados do século.
Pelos cálculos da ONU, o ano de 2047 será um marco:
pela primeira vez haverá um número maior de pessoas com mais de 60 anos do que
com menos de 15. Não apenas viveremos mais. Viveremos mais com mais saúde.
Para uma sociedade historicamente acostumada
a cultuar a juventude, o fato de que o mundo terá cada vez mais pessoas de
meia-idade e idosos costuma ser associado a problemas. É claro que eles
existem, mas vale a pena registrar o essencial. Garantir mais e melhores anos
de vida é a maior vitória da humanidade até agora — ou alguém aí está triste
com a perspectiva de que vai viver mais do que seus antepassados?
Na esfera econômica, o envelhecimento também
é uma boa notícia, como já comprovam dados dos Estados Unidos, país que costuma
antecipar as tendências que depois se espalham. Os 106 milhões de americanos
nascidos de 1946 a 1964, conhecidos como baby boomers, estão cheios de fios
brancos. Considerados o grupo que forjou a sociedade de consumo, eles estão mais
maduros, mas continuam enchendo lojas e shopping centers. Os americanos com 50
anos ou mais movimentam 7,1 trilhões de dólares por ano — se formassem um país
independente, seriam o terceiro maior PIB, atrás de Estados Unidos e China. Os
baby boomers são líderes de compras em 119 das 123 categorias de bens de
consumo, controlam 80% da riqueza e gastam 90 bilhões de dólares por ano em
carros — 28% mais do que os com menos de 50.
Essa geração é a primeira que cresceu com
aparelhos eletrônicos dentro de casa e testemunhou o surgimento do computador e
da internet. Isso faz com que seja formada por ávidos consumidores de
tecnologia.
No ano 2000, apenas 36% das pessoas na faixa
de 50 aos 65 anos já haviam usado a internet. Em 2012,
esse número chegou a 85%. Os gastos com tecnologia de pessoas na faixa dos 50
aos 64 anos nos Estados Unidos representaram 40% do mercado de produtos tecnológicos. Pelos cálculos da
consultoria Nielsen, 32% deles têm smartphone e, ao todo, gastam 12% mais em
compras online do que a geração de 35 a 46 anos.
A vida média no período passou de 70 para 78
anos, e isso gerou 3,2 trilhões de dólares a mais de renda por ano. Esse bônus
veio principalmente pela redução de mortes prematuras causadas por ataques do
coração e câncer. É uma geração mais saudável, que conseguiu produzir mais por
mais tempo.
No Japão, um dos 32 países em que a
expectativa já entrou na casa dos 80 anos, 44% dos gastos pessoais são feitos
por consumidores com mais de 60. No Brasil, o consumo das pessoas acima dos 50
anos é de 917 bilhões de reais. Elas gastam por ano quase 135 bilhões de reais
em alimentos e bebidas, 64 bilhões em carros, 49 bilhões em artigos de
vestuário, 24 bilhões em produtos de higiene e beleza e 12 bilhões em viagens.
O efeito mais imediato dessa nova demografia
brasileira já pode ser sentido nas previsões do varejo. Pelos cálculos da
Escopo, nos próximos quatro anos, o consumo das pessoas com 50 anos ou mais no
Brasil deverá crescer 35%. Em países com taxa de envelhecimento maior, como a
França, as projeções revelam um fenômeno mais acentuado.
Hoje, um terço dos investimentos feitos por
laboratórios e universidades em novos remédios, cerca de 56 bilhões de dólares,
está ligado à biomedicina, muito eficaz no combate a algumas das doenças que
mais matam idosos e os deixam com a saúde fraca nos anos finais.
Por isso, é importante que um eventual avanço
da longevidade seja acompanhado de melhora na qualidade de vida. Adicionar anos
de vida pode não ter tanto valor assim. A menos que uma pessoa de 100 anos
possa viver como uma de 60.
Fonte: Revista Exame – Edição 1053
Nenhum comentário:
Postar um comentário