Mais cidades pelo mundo voltam as
atenções para as pessoas acima de 60 anos. Não é só política social. O impacto
aparece nas finanças públicas e na economia
A paulista Ernestina Silvestre
Conti retardou ao máximo a aposentadoria. Ela só conseguiu parar de dar aulas
em uma escola municipal no ano passado, aos 65 anos – trabalhou sete a mais que
a média brasileira. O motivo não foi necessidade de dinheiro, e sim o receio de
ficar parada.
No primeiro ano da nova fase,
porém, Ernestina viu que na cidade onde mora só fica em casa quem quer. Às
segundas e quintas-feiras, ela faz capoeira, caratê e pilates. Às terças e
quartas, ioga. Na sexta-feira, musculação e hidroginástica. A programação é
oferecida pela prefeitura. “Se eu morasse em qualquer outro lugar do país, não
teria isso perto de casa”, diz. Ernestina faz parte do grupo de 29 700 cidadãos
acima de 60 anos que vivem em São Caetano do Sul, no ABC paulista, a melhor
cidade brasileira para os aposentados, segundo pesquisa feita para EXAME pela
empresa de análise de dados Urban Systems. Foram analisados municípios a partir
de 100 000 habitantes em aspectos econômicos, demográficos e de qualidade de
vida.
Não é a toa que São Caetano do
Sul está no topo. Por lá, a esperança de vida ao nascer é de 72 anos, a
terceira melhor entre os municípios pesquisados. Na cidade, 90% dos ônibus
estão adaptados para cadeirantes e 30% dos idosos vivem próximos a calçadas com
rampas. Essas pessoas têm acesso a atendimento psicológico individual e a hidroterapia.
Tudo sem custo. Ernestina não gasta nem um real. E não que o lado financeiro
seja um problema, já que sua renda mensal supera 6 000 reais – na cidade, pela
alta escolaridade, a renda dos idosos é 40% mais elevada do que a média da
população brasileira. Em São Caetano do Sul, a preocupação com essas pessoas
está na agenda há três décadas – são 116 idosos para cada 100 jovens, a maior
proporção do Brasil. E o município colhe os frutos de suas políticas. Em 2011,
as internações por doenças hipertensivas caíram para 9% dos idosos, ante 15% um
ano antes. As por doenças endócrinas e nutricionais passaram de 37% para 32%.
“Investimos em prevenção para o idoso procurar menos os serviços de saúde”, diz
o prefeito Paulo Pinheiro, médico que atendeu por 25 anos no município.
Estudo da ONG Trust for America’s
Health mostra que cada dólar investido em estímulo à atividade física de
adultos trás economia de 5,6 dólares com serviços de saúde. Cuidar dos idosos
não é uma questão apenas social, mas econômica. A prefeitura da cidade do ABC
investe 13 milhões de reais ao ano em iniciativas para essa população, que
gasta 39 milhões por mês na economia local, segundo o instituto de pesquisas da
Universidade de São Caetano do Sul.
O envelhecimento da população é
uma preocupação latente das cidades. Até 2050, o mundo terá mais de 3 bilhões
de pessoas acima dos 50 anos. A maioria delas viverá em centros urbanos.
Enquanto a discussão federal foca a previdência social e a saúde, nos governos
municipais ela é mais abrangente. “A responsabilidade das cidades está na
infraestrutura e na inserção do idoso na comunidade”, diz Michele Grahnolati,
líder para o setor de Desenvolvimento Humano do Banco Mundial. Um programa da
ONU chamado Cidade Amiga do Idoso, iniciado com 33 prefeitos em 2006, já conta
com 1 400 municípios adeptos. Nessas cidades, a OMS incentiva a formação de
grupos com a sociedade civil e as autoridades para ouvir os idosos e traçar
planos de ação. Uma cidade amiga instiga as pessoas a ter boa saúde e
aprendizado contínuo e garante a segurança.
Fonte: Revista EXAME – Edição 1053
Por: Flávia Furlan
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