quinta-feira, 10 de março de 2016

Como desconstruir preconceitos contra os idosos


Em entrevista ao site Razões para Acreditar, a psicóloga de idosos Raquel Ribeiro aponta os caminhos para desconstrução dos preconceitos contra pessoas com mais de 60 anos, decorrente da noção de que terceira idade é sinônimo de fragilidade ou incapacidade.


Razões para Acreditar: Como podemos desconstruir o conceito que associa impotência/fragilidade à velhice?

Raquel: Esse é um dos grandes desafios da sociedade atual. É praticamente automático as pessoas relacionarem os termos “idoso” e “velhice” às ideias de doença, fragilidade e improdutividade, mas essa visão está distorcida. Idosos são simplesmente pessoas com 60 anos ou mais, sendo a grande maioria ativa, criativa, saudável e totalmente independente. Claro que existem alterações fisiológicas, mas, ao contrário do que a maior parte das pessoas acredita, elas não são sempre limitantes. Para lidar com idosos, a palavra-chave é adaptação. É fundamental que as pessoas compreendam que eles têm total condição de continuar contribuindo e muito para a sociedade.

Acredito que seja necessário um esforço conjunto em diferentes esferas:

1) Educação: desde idades iniciais, na escola, favorecer momentos de integração entre crianças, adolescentes e idosos com projetos intergeracionais, com dias especiais em que os idosos possam realizar atividades junto aos mais jovens e que sejam interessantes para ambos;

2) Cultura: a mídia televisiva precisa apresentar menos personagens idosos estereotipados e mais personagens ativos nas novelas e na mídia em geral.  Um exemplo pode ser encontrado no filme “Envelhescência”, de Gabriel Martinez;

3) Empresas que trabalham com o público idoso: bancos, farmácias, supermercados, entre outros, precisam treinar seus funcionários para atenderem idosos sem infantilizá-los e sem achar que eles são incapazes de realizarem certas ações, como irem ao banco desacompanhados apenas baseados na idade, por exemplo;

4) Profissionais da saúde: muitos idosos reclamam para mim que foram em consultas médicas com familiares e que o médico se dirigiu apenas ao acompanhante, deixando o idoso sem voz nem vez. Isso acontece com outros profissionais também e, por isso, é tão importante que tenham uma formação específica sobre idosos durante seus cursos, pois, com o envelhecimento populacional, atender esse público vai ser cada vez mais frequente;


5) Planos de saúde: a maior parte dos planos de saúde foca seu olhar sobre a doença e o respectivo tratamento (que é caro) em detrimento a saúde e as práticas preventivas, bem mais baratas. Essas empresas podem mudar a realidade oferecendo serviços de empoderamento, apoio, socialização e troca de conhecimento e afetos entre idosos que diminuem (e muito) a incidência de doenças e condições frequentes que geram ou aumentam suas dependências. O olhar para pessoas de outras faixas etárias também é importante. Sonho com o dia em que os planos de saúde façam, por exemplo, parcerias com vendedores de produtos orgânicos para seus associados terem descontos. Isso, por si já seria um reforço do paradigma da saúde, pois diminuindo a ingestão de agrotóxicos, provavelmente teremos uma porcentagem maior de pessoas saudáveis em todas as idades.

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