Em entrevista ao site
Razões para Acreditar, a psicóloga de idosos Raquel Ribeiro aponta os caminhos
para desconstrução dos preconceitos contra pessoas com mais de 60 anos,
decorrente da noção de que terceira idade é sinônimo de fragilidade ou
incapacidade.
Razões para Acreditar: Como podemos desconstruir o conceito
que associa impotência/fragilidade à velhice?
Raquel: Esse é um dos grandes desafios da sociedade atual. É
praticamente automático as pessoas relacionarem os termos “idoso” e “velhice”
às ideias de doença, fragilidade e improdutividade, mas essa visão está
distorcida. Idosos são simplesmente pessoas com 60 anos ou mais, sendo a grande
maioria ativa, criativa, saudável e totalmente independente. Claro que existem
alterações fisiológicas, mas, ao contrário do que a maior parte das pessoas acredita,
elas não são sempre limitantes. Para lidar com idosos, a palavra-chave é
adaptação. É fundamental que as pessoas compreendam que eles têm total condição
de continuar contribuindo e muito para a sociedade.
Acredito que seja necessário um esforço conjunto em
diferentes esferas:
1) Educação: desde idades iniciais, na escola, favorecer
momentos de integração entre crianças, adolescentes e idosos com projetos
intergeracionais, com dias especiais em que os idosos possam realizar
atividades junto aos mais jovens e que sejam interessantes para ambos;
2) Cultura: a mídia televisiva precisa apresentar menos
personagens idosos estereotipados e mais personagens ativos nas novelas e na
mídia em geral. Um exemplo pode ser
encontrado no filme “Envelhescência”, de Gabriel Martinez;
3) Empresas que trabalham com o público idoso: bancos,
farmácias, supermercados, entre outros, precisam treinar seus funcionários para
atenderem idosos sem infantilizá-los e sem achar que eles são incapazes de
realizarem certas ações, como irem ao banco desacompanhados apenas baseados na
idade, por exemplo;
4) Profissionais da saúde: muitos idosos reclamam para mim
que foram em consultas médicas com familiares e que o médico se dirigiu apenas
ao acompanhante, deixando o idoso sem voz nem vez. Isso acontece com outros
profissionais também e, por isso, é tão importante que tenham uma formação
específica sobre idosos durante seus cursos, pois, com o envelhecimento
populacional, atender esse público vai ser cada vez mais frequente;
5) Planos de saúde: a maior parte dos planos de saúde foca
seu olhar sobre a doença e o respectivo tratamento (que é caro) em detrimento a
saúde e as práticas preventivas, bem mais baratas. Essas empresas podem mudar a
realidade oferecendo serviços de empoderamento, apoio, socialização e troca de
conhecimento e afetos entre idosos que diminuem (e muito) a incidência de
doenças e condições frequentes que geram ou aumentam suas dependências. O olhar
para pessoas de outras faixas etárias também é importante. Sonho com o dia em
que os planos de saúde façam, por exemplo, parcerias com vendedores de produtos
orgânicos para seus associados terem descontos. Isso, por si já seria um
reforço do paradigma da saúde, pois diminuindo a ingestão de agrotóxicos,
provavelmente teremos uma porcentagem maior de pessoas saudáveis em todas as
idades.
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FONTE: RAZÕES PARA ACREDITAR
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