Jovem aos 91 anos, ela mostra que vitalidade não é apenas
uma questão de idade. Campeã de natação, sobrevivente do nazismo e de um
câncer, ela desafia os limites do seu corpo.
A vida ensinou Nora Tausz
Rónai a vencer provas e desafiar os limites do corpo. Hoje, aos 90 anos,
ela é atleta e viaja o mundo, participando de campeonatos de natação. Praticou
salto em plataforma, fez slalom na neve e não hesitou em pular de paraquedas
quando completou 80 anos. Mas, há 73 anos, o que estava em disputa era sua sobrevivência.
Em maio de 1941, com os pais e o irmão, Giorgio, ela
desembarcou no Rio de Janeiro após uma atribulada viagem para escapar do
nazismo. Professora aposentada de arquitetura, Nora narra seu caminho em
Memórias de um Lugar Chamado Onde (Ed. Casa da Palavra). A história da família
Tausz virou livro quase por acaso. “Minha neta precisava fazer um trabalho para
a escola, contando a história de uma avó ou um avô. Com três ou quatro páginas
que escrevi, ela já ficou satisfeita e recebeu nota 10”, revela Nora, que tem
quatro netos e seis bisnetos.
Tempos de guerra
Muito do que a família Tausz viveu na Itália é dramático, o
que Nora conta sem amargura. O regime fascista de Mussolini impunha leis
raciais. Uma delas atingiu em cheio a pequena Nora. Toda criança judia era
proibida de frequentar a escola “para não contaminar os meninos arianos”. Foi
um dos períodos mais difíceis de sua vida. Com a guerra, ela perdeu parentes. O
pai e o irmão foram levados para um campo nazista, mas acabaram resgatados. Uma
próxima prisão seria fatal. Chegara a hora de deixar a Itália. A solução foi
recorrer ao Vaticano, que havia recebido do governo brasileiro 3 mil vistos
destinados a atender católicos e judeus batizados.
Paixão pelas piscinas
No Brasil, Nora formou-se em arquitetura e se tornou
professora da UFRJ. Ela sorri diante de uma pergunta sobre o assunto de que
mais gosta de falar: sua performance nas piscinas. Leva a sério. Treina quatro
vezes por semana, durante uma hora, e participa das competições da Federação Internacional
da Natação Amadora, categoria Máster. No passado, ela bateu o recorde mundial
no Torneio Mais de Natação Máster, nos 100 m borboleta, além de ser detentora
de um recorde mundial no revezamento 4x100, obtido na Suécia. Ela diz que
sempre foi competitiva. Antes de nadar, praticava salto de plataforma. Mas a
natação é sua grande paixão, além de ser, como admite, uma maneira de superar
os momentos difíceis. É o seu refúgio. Foi após a morte do marido que ela
intensificou a participação em campeonatos de máster. A partir daí, viaja o
mundo, disputando campeonatos oficiais. A filha, Cora, que já a acompanhou em
algumas dessas etapas, descreve a emoção de ver a mãe competir: “É muito bacana
ver a reação das pessoas aos tempos e à garra da mamãe. Ela é aplaudida e
cumprimentada na piscina”.
Disposição é com ela mesma. Salto de paraquedas em queda
livre foi algo que a fascinou tanto que, em 2004, pediu para experimentar, como
presente de aniversário dos 80 anos. Embarcou em um pequeno avião, ouviu as
instruções e preparou-se para saltar. “Estava no ar, como se estivesse voando.
Foi muito gostoso”, recorda. Sentiu uma certa dificuldade para respirar em
função da velocidade da queda antes da abertura do paraquedas, mas aprovou a
experiência. “A tontura demorou um pouco a passar. Depois, minha amiga
cardiologista me passou um pito. Falou que eu não deveria ter feito aquilo. Mas
estava feito” – completa, rindo. Medo,
garante que não sentiu. “Como saltava de plataforma de 10 m, tinha algum
treino. Além disso, quando criança, gostava de esquiar.
Na Itália, eu fazia
slalom de uma altura de 25 m. Nem era permitido a meninas, mas eu conseguia
enganar os fiscais”, diz. Para conseguir toda essa energia, Nora não tem
segredos. “Nunca fui de comer muito. No café da manhã, tomo suco de berinjela
ou de laranja-lima, uma caneca de café com leite e como dois pãezinhos com
geleia. No almoço, gosto de frutos do mar, mas também como carne ou frango. No
jantar, um lanche leve, frango com salada.”
Por causa do tratamento de um câncer, ela se afastou das
piscinas em 2004. “Tive câncer no seio, passei por cirurgia e terapias fortes,
mas depois de cinco semanas voltei a treinar. Na época, o médico me disse que
eu teria de continuar tomando medicamentos durante cinco anos. Eu achei ótimo.
Pensei: Então ele está me dando mais cinco anos”, conta rindo.
FONTE: SOU MAIS EU
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