sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Profissionais mais velhos e os novos desafios das empresas


Perto de chegar ao ápice da mão de obra qualificada formada por jovens, companhias devem se preparar para atrair e reter profissionais com mais idade e experiência.

Ao longo das próximas décadas, o Brasil acompanhará a redução das taxas de mão de obra qualificada disponível entre os mais jovens. O auge desse fenômeno deve ocorrer em 2030.

Em 2013, a maior faixa de pessoas em idade ativa preparada para o mercado de trabalho era formada por jovens entre 20 a 29 anos. Em 2040, a maior parte dessas pessoas terá entre 40 e 49 anos. E, a partir de 2060, a faixa etária de profissionais com disponibilidade subirá consideravelmente, chegando aos 59 anos de idade. A mudança do perfil da classe economicamente ativa transformará o cenário laboral por completo, e o que se observa, no momento, é que poucas empresas estão se preparando para essa realidade futura.

Muito além de dominar o mercado consumidor, os idosos do amanhã estarão aptos para ocupar postos de trabalho e ajudar no desenvolvimento da economia. Dessa maneira, as empresas devem considerar a criação de políticas de atração e retenção de talentos, além de promover a cultura de valorização da pessoa idosa.

Essa mudança na configuração social também dará maior representatividade à terceira idade. Para se adaptar, é preciso investir na capacitação dessa força de trabalho. “As empresas precisam aprender, de forma mais rápida, como elas lidarão com as novas relações de trabalho, pois isso provoca mudanças na sociedade. Hoje, sabemos que viver mais e com mais qualidade de vida está mudando os nossos conceitos, expandindo as fronteiras do que era o trabalho na velhice. Além disso, as pessoas buscam um sentido, uma ocupação que faça a diferença na vida delas”, comentou Márcia Tavares, diretora do Centro Internacional de Longevidade Brasil, durante o III Fórum Internacional da Longevidade.

Reconfiguração do mercado de trabalho
Atualmente, já há um gap entre a força de trabalho disponível e a expectativa de contratação do empregador. A baixa qualificação está impactando o mercado porque os jovens não estão recebendo educação de qualidade. Além disso, a faixa entre 50 a 59 ainda está vivendo sob a influência de uma aposentadoria precoce. “Isso é um resquício que herdamos de um tempo em que as pessoas mais velhas eram consideradas improdutivas e, portanto, convidadas a se retirar antecipadamente do mercado de trabalho, para que abrisse espaço para os mais jovens, que eram considerados produtivos”, acrescentou Márcia, autora do livro “Trabalho e Longevidade. Como o novo regime demográfico vai mudar a gestão de pessoas e a organização do trabalho”.

Enquanto os mais jovens estão despreparados e a faixa intermediária pensa na aposentadoria, as pessoas com mais idade, e que ainda se sentem aptas para permanecer ativas, não têm oferta de trabalho digno.

Além dessas questões, que provocam déficit, existe também outro problema, que já se observa nos dias de hoje: a fuga de cérebros, que é como se diz quando profissionais capacitados deixam o país em busca de oportunidades em outros mercados. Além da evasão internacional, as empresas competirão cada vez mais pela busca da escassa mão de obra qualificada.

Todo esse contexto poderá custar mais caro, por conta da lei da oferta e da procura. “Quanto mais difícil ter acesso a profissionais qualificados, mais caro custará, o que, em grande escala, impactará as empresas financeiramente. Em meio a esse cenário, as companhias terão que continuar inovando, pois elas precisam criar produtos e serviços novos para uma população de pessoas idosas. Não apenas no papel de consumidoras, mas também como trabalhadoras. Além disso, nunca antes na história tantas gerações trabalharam juntas. O que faz com que a gestão de pessoas ganhe uma complexidade maior”, reforçou Márcia Tavares.

Experiências de fora
Diante desse novo cenário, o governo, por meio de políticas públicas e leis de incentivo, e as empresas devem estar preparados para manter pessoas mais velhas colaborando por muito mais tempo. O que se observa, no entanto, é que as empresas ainda resistem à ideia de que os idosos são uma alternativa para superar a escassez de profissionais qualificados no mercado.

Um pesquisa da PwC, de 2013, mostrou que apenas 37% de 108 empresas reconhecem que as pessoas mais velhas podem   contribuir como parte de um mecanismo para reduzir este déficit de profissionais. No entanto, apenas 12% contam com práticas direcionadas para atrair ou reter essa mão de obra. “Mas para todo problema há uma oportunidade. Na Austrália, por exemplo, foi feito um estudo, em 2012, que mostrou que, se houvesse o incremento de 3% na participação de pessoas com 55 anos ou mais na força de trabalho, haveria um ganho de 33 bilhões de dólares no produto interno bruto daquele país. Se o índice fosse 5%, o valor subiria para 48 bilhões de dólares”, exemplificou Márcia.

Como os países desenvolvidos começaram a envelhecer antes do Brasil, é possível se inspirar  na experiência de outros mercados para uma nova realidade brasileira. “Eles já conseguiram mapear demandas que a gente ainda não tem e já estão testando algumas soluções. Os erros e os acertos deles servirão de lições aprendidas para todos. Como essas nações já sabem que terão esse déficit acentuado, e não têm políticas internas que resolvam isso por completo, eles buscarão em outros lugares. Como o Canadá, por exemplo, que faz ações de incentivos para atrair imigrantes com qualificação profissional”, pontuou.


Além de se preparar para contar com colaboradores mais velhos, o aumento da expectativa de vida também traz transformações na vida dos jovens profissionais que precisarão de suporte para cuidar de pais idosos. Como hoje em dia as pessoas recebem benefícios e auxílio para cuidarem dos filhos, elas precisarão de apoio para cuidar dos familiares. “Muitos envelhecerão saudáveis e outros podem desenvolver doenças crônicas, e viverão com ela por muitos anos, o que demandará cuidados especiais. O desafio para as empresas será estar ao lado deste colaborador nesse período delicado da vida, pois é improvável que ele se mantenha criativo, produtivo, engajado, focado nas metas, trabalhando 44 horas por semana, mesmo sabendo que o pai ou a mãe está internado no hospital ou em casa com câncer”, alertou Márcia Tavares.

Nenhum comentário:

Postar um comentário