Perto
de chegar ao ápice da mão de obra qualificada formada por jovens, companhias
devem se preparar para atrair e reter profissionais com mais idade e
experiência.
Ao longo das próximas
décadas, o Brasil acompanhará a redução das taxas de mão de obra qualificada
disponível entre os mais jovens. O auge desse fenômeno deve ocorrer em 2030.
Em 2013, a maior faixa de
pessoas em idade ativa preparada para o mercado de trabalho era formada por
jovens entre 20 a 29 anos. Em 2040, a maior parte dessas pessoas terá entre 40
e 49 anos. E, a partir de 2060, a faixa etária de profissionais com
disponibilidade subirá consideravelmente, chegando aos 59 anos de idade. A
mudança do perfil da classe economicamente ativa transformará o cenário laboral
por completo, e o que se observa, no momento, é que poucas empresas estão se
preparando para essa realidade futura.
Muito além de dominar o
mercado consumidor, os idosos do amanhã estarão aptos para ocupar postos de
trabalho e ajudar no desenvolvimento da economia. Dessa maneira, as empresas
devem considerar a criação de políticas de atração e retenção de talentos, além
de promover a cultura de valorização da pessoa idosa.
Essa mudança na configuração
social também dará maior representatividade à terceira idade. Para se adaptar,
é preciso investir na capacitação dessa força de trabalho. “As empresas
precisam aprender, de forma mais rápida, como elas lidarão com as novas
relações de trabalho, pois isso provoca mudanças na sociedade. Hoje, sabemos
que viver mais e com mais qualidade de vida está mudando os nossos conceitos,
expandindo as fronteiras do que era o trabalho na velhice. Além disso, as
pessoas buscam um sentido, uma ocupação que faça a diferença na vida delas”,
comentou Márcia Tavares, diretora do Centro Internacional de Longevidade
Brasil, durante o III Fórum Internacional da Longevidade.
Reconfiguração
do mercado de trabalho
Atualmente, já há um gap entre a força de trabalho disponível
e a expectativa de contratação do empregador. A baixa qualificação está
impactando o mercado porque os jovens não estão recebendo educação de
qualidade. Além disso, a faixa entre 50 a 59 ainda está vivendo sob a
influência de uma aposentadoria precoce. “Isso é um resquício que herdamos de
um tempo em que as pessoas mais velhas eram consideradas improdutivas e,
portanto, convidadas a se retirar antecipadamente do mercado de trabalho, para
que abrisse espaço para os mais jovens, que eram considerados produtivos”,
acrescentou Márcia, autora do livro “Trabalho e Longevidade. Como o novo regime
demográfico vai mudar a gestão de pessoas e a organização do trabalho”.
Enquanto os mais jovens
estão despreparados e a faixa intermediária pensa na aposentadoria, as pessoas
com mais idade, e que ainda se sentem aptas para permanecer ativas, não têm
oferta de trabalho digno.
Além dessas questões, que
provocam déficit, existe também outro problema, que já se observa nos dias de
hoje: a fuga de cérebros, que é como se diz quando profissionais capacitados
deixam o país em busca de oportunidades em outros mercados. Além da evasão
internacional, as empresas competirão cada vez mais pela busca da escassa mão
de obra qualificada.
Todo esse contexto poderá
custar mais caro, por conta da lei da oferta e da procura. “Quanto mais difícil
ter acesso a profissionais qualificados, mais caro custará, o que, em grande
escala, impactará as empresas financeiramente. Em meio a esse cenário, as
companhias terão que continuar inovando, pois elas precisam criar produtos e
serviços novos para uma população de pessoas idosas. Não apenas no papel de
consumidoras, mas também como trabalhadoras. Além disso, nunca antes na
história tantas gerações trabalharam juntas. O que faz com que a gestão de pessoas
ganhe uma complexidade maior”, reforçou Márcia Tavares.
Experiências
de fora
Diante desse novo cenário, o
governo, por meio de políticas públicas e leis de incentivo, e as empresas
devem estar preparados para manter pessoas mais velhas colaborando por muito
mais tempo. O que se observa, no entanto, é que as empresas ainda resistem à
ideia de que os idosos são uma alternativa para superar a escassez de
profissionais qualificados no mercado.
Um pesquisa da PwC, de 2013,
mostrou que apenas 37% de 108 empresas reconhecem que as pessoas mais velhas
podem contribuir como parte de um mecanismo para
reduzir este déficit de profissionais. No entanto, apenas 12% contam com
práticas direcionadas para atrair ou reter essa mão de obra. “Mas para todo
problema há uma oportunidade. Na Austrália, por exemplo, foi feito um estudo,
em 2012, que mostrou que, se houvesse o incremento de 3% na participação de
pessoas com 55 anos ou mais na força de trabalho, haveria um ganho de 33
bilhões de dólares no produto interno bruto daquele país. Se o índice fosse 5%,
o valor subiria para 48 bilhões de dólares”, exemplificou Márcia.
Como os países desenvolvidos
começaram a envelhecer antes do Brasil, é possível se inspirar na experiência de outros mercados para uma
nova realidade brasileira. “Eles já conseguiram mapear demandas que a gente
ainda não tem e já estão testando algumas soluções. Os erros e os acertos deles
servirão de lições aprendidas para todos. Como essas nações já sabem que terão
esse déficit acentuado, e não têm políticas internas que resolvam isso por
completo, eles buscarão em outros lugares. Como o Canadá, por exemplo, que faz
ações de incentivos para atrair imigrantes com qualificação profissional”,
pontuou.
Além de se preparar para
contar com colaboradores mais velhos, o aumento da expectativa de vida também
traz transformações na vida dos jovens profissionais que precisarão de suporte
para cuidar de pais idosos. Como hoje em dia as pessoas recebem benefícios e
auxílio para cuidarem dos filhos, elas precisarão de apoio para cuidar dos
familiares. “Muitos envelhecerão saudáveis e outros podem desenvolver doenças
crônicas, e viverão com ela por muitos anos, o que demandará cuidados
especiais. O desafio para as empresas será estar ao lado deste colaborador
nesse período delicado da vida, pois é improvável que ele se mantenha criativo,
produtivo, engajado, focado nas metas, trabalhando 44 horas por semana, mesmo
sabendo que o pai ou a mãe está internado no hospital ou em casa com câncer”,
alertou Márcia Tavares.
FONTE: MUNDO DO MARKETING
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