sexta-feira, 8 de maio de 2015

Por que alguns familiares não aceitam o diagnóstico de Alzheimer?

Queixas como “meu irmão insiste em dizer que se trata-se apenas de uma leve perda de memória, natural do envelhecimento e que não tem nada a ver com Alzheimer ou qualquer outra demência são muito frequentes.  Muitos familiares têm dificuldade de aceitar o diagnóstico de que o pai ou mãe, idosos, esteja acometido pela demência.
Há uma negação sistemática, alguns recusam-se mesmo a acompanhar as consultas ao médico, outros, com essa postura, não dão nenhum crédito às situações narradas sobre o dia a dia do idoso com Alzheimer. Muitos filhos de pais idosos com Alzheimer, embora não aceitem  a realidade, sentem alguma culpa e se limitam a contribuir financeiramente. A explicação possível desta atitude de rejeição se  deve provavelmente ao medo de imaginar seu ente amado se “apagando” aos poucos e se sentir impotente.

Por outro lado, essa negação, essa rejeição ao diagnóstico, implica em uma carga emocional e estresse ainda maior à pessoa da família que se encarrega dos cuidados diários do familiar acometido de Alzheimer. A pessoa que assumiu o papel de cuidador terá menos pessoas a quem recorrer, com quem dialogar, com quem dividir as dificuldades crescentes que ocorrem com o progresso da doença.

Por vezes essa tarefa de ser um cuidador parece árdua e pouco reconhecida pelos demais familiares. Mas é essa pessoa que vê nitidamente as mudanças provocadas pela evolução da doença, como a perda gradativa da capacidade da pessoa com Alzheimer de fazer certas  tarefas que antes fazia sem dificuldade. Nestes momentos, o familiar que não participa mais de perto dos cuidados tem dificuldade de entender e aceitar estas mudanças e acaba por criticar as ações do cuidador, que fica sempre hesitando entre oferecer ajuda e tentar ainda manter a independência do idoso. Como determinar o momento apropriado para parar de forçar que o paciente faça suas tarefas diárias por si mesmo e ajudá-lo a fazer sem ferir sua dignidade e autoestima. Quando a doença atinge este estágio, não se trata mais apenas de perda de memória ou simples esquecimento, mas de um irreversível processo de declínio de outras funções cognitivas.

Por exemplo, é muito comum, um familiar que vê a mãe idosa algumas vezes por semana, achar inadmissível que ela não prepare sua própria refeição. Ocorre que muitas pessoas diagnosticadas com Alzheimer, em alguma fase da doença, perdem a capacidade de planejar, organizar, iniciar e controlar ações – as chamadas funções executivas. Embora uma tarefa aparentemente “simples”, preparar uma refeição requer: decidir o que fazer, identificar e juntar os ingredientes, usá-los numa ordem determinada ou todos juntos, escolher os utensílios certos, definir do tempo de cozimento e finalmente dar por concluído o prato. Como podemos ver, é uma tarefa que, embora executada repetidas vezes e muitas vezes ao longo dos anos, exige senso de organização, planejamento, execução e monitoramento.

Outra postura muito comum é um familiar inconformado com o diagnóstico não acreditar no médico, dizendo que precisa ter outros diagnósticos que confirmem o primeiro. Frequentemente é uma atitude meramente protelatória. No fundo a rejeição, a negação do fato, são máscaras sob as quais se escondem emoções e sentimentos de tristeza, medo, raiva, perda e incerteza.

Um paciente com Alzheimer não escolheu abrir mão de sua independência por preguiça ou desmotivação. A realidade é que ele não consegue executar estas tarefas e é irreal esperar que faça. Devido as diferenças de opinião entre os familiares (irmãos, quando se tratar de pai ou mãe doente) acabam criando uma crise interna, e não raras vezes, culminando com discussões e brigas. Nestas situações, torna-se necessária uma reunião familiar com a mediação de um profissional da saúde (médicos, psicólogos, terapeutas ocupacionais e especialistas em Alzheimer) para discutir, explicar sobre a doença e sua evolução, ajudar no planejamento do dia a dia de todos os envolvidos, na distribuição das atribuições e responsabilidades de cada familiar, na definição da pessoa que se encarregará do papel de cuidador e na assessoria a eventuais modificações físicas na casa para maior conforto e segurança do paciente.


A união de esforços dos membros da família que passa a conviver com a nova situação e lidar com as mudanças necessárias na vida de cada um, é a melhor forma de dar apoio ao cuidador e com isso ajudar a dar ao paciente uma qualidade de vida.

Fonte: Terceira Idade Melhor 

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