Queixas como “meu irmão insiste em dizer que se
trata-se apenas de uma leve perda de memória,
natural do envelhecimento e que não tem nada a ver com Alzheimer ou
qualquer outra demência” são muito frequentes. Muitos
familiares têm dificuldade de aceitar o diagnóstico de que o pai ou mãe, idosos, esteja acometido pela demência.
Há uma negação sistemática, alguns recusam-se
mesmo a acompanhar as consultas ao médico, outros, com essa postura, não dão
nenhum crédito às situações narradas sobre o dia a dia do idoso com Alzheimer.
Muitos filhos de pais
idosos com Alzheimer, embora não aceitem a realidade, sentem
alguma culpa e se limitam a contribuir financeiramente. A explicação possível
desta atitude de rejeição se deve provavelmente ao medo de imaginar seu
ente amado se “apagando” aos poucos e se sentir impotente.
Por outro lado, essa negação, essa rejeição ao diagnóstico,
implica em uma carga emocional e estresse ainda maior à pessoa da família que
se encarrega dos cuidados diários do familiar acometido de Alzheimer. A
pessoa que assumiu o papel de cuidador terá menos pessoas a quem recorrer,
com quem dialogar, com quem dividir as dificuldades crescentes que ocorrem com
o progresso da doença.
Por vezes essa tarefa de ser um cuidador parece
árdua e pouco reconhecida pelos demais familiares. Mas é essa pessoa que vê
nitidamente as mudanças provocadas pela evolução da doença, como
a perda gradativa da capacidade da pessoa com Alzheimer de
fazer certas tarefas que antes fazia sem dificuldade. Nestes momentos, o
familiar que não participa mais de perto dos cuidados tem dificuldade de
entender e aceitar estas mudanças e acaba por criticar as ações do cuidador,
que fica sempre hesitando entre oferecer ajuda e tentar ainda manter a
independência do idoso. Como determinar o momento apropriado para parar de
forçar que o paciente faça suas tarefas diárias por si mesmo e ajudá-lo a fazer
sem ferir sua dignidade e autoestima.
Quando a doença atinge este estágio, não se trata mais apenas de perda de
memória ou simples esquecimento, mas de um irreversível processo de declínio de
outras funções
cognitivas.
Por exemplo, é muito comum, um familiar que vê a
mãe idosa algumas vezes por semana, achar inadmissível que ela não prepare sua
própria refeição. Ocorre que muitas pessoas diagnosticadas com Alzheimer, em alguma fase da doença, perdem a
capacidade de planejar, organizar, iniciar e controlar ações – as chamadas
funções executivas. Embora uma tarefa aparentemente “simples”, preparar uma
refeição requer: decidir o que fazer, identificar e juntar os ingredientes, usá-los
numa ordem determinada ou todos juntos, escolher os utensílios certos, definir
do tempo de cozimento e finalmente dar por concluído o prato. Como podemos ver,
é uma tarefa que, embora executada repetidas vezes e muitas vezes ao longo dos
anos, exige senso de organização, planejamento, execução e monitoramento.
Outra postura muito comum é um familiar
inconformado com o diagnóstico não
acreditar no médico,
dizendo que precisa ter outros diagnósticos que confirmem o primeiro. Frequentemente é
uma atitude meramente protelatória. No fundo a rejeição, a negação do fato, são
máscaras sob as quais se escondem emoções e sentimentos de tristeza, medo,
raiva, perda e incerteza.
Um paciente
com Alzheimer não
escolheu abrir mão de sua independência por preguiça ou desmotivação. A
realidade é que ele não consegue executar estas tarefas e é irreal esperar que
faça. Devido as diferenças de opinião entre os familiares (irmãos, quando se
tratar de pai ou mãe doente) acabam criando uma crise interna, e não raras
vezes, culminando com discussões e brigas. Nestas situações, torna-se
necessária uma reunião familiar com a mediação de um profissional
da saúde (médicos, psicólogos, terapeutas ocupacionais e especialistas em Alzheimer) para
discutir, explicar sobre a doença e sua evolução, ajudar no planejamento do dia
a dia de todos os envolvidos, na distribuição das atribuições e
responsabilidades de cada familiar, na definição da pessoa que se encarregará
do papel de cuidador e
na assessoria a eventuais modificações físicas na casa para maior conforto e
segurança do paciente.
A união de esforços dos membros da família
que passa a conviver com a nova situação e lidar com as mudanças necessárias na
vida de cada um, é a melhor forma de dar apoio ao cuidador e com isso ajudar a dar ao paciente uma qualidade de vida.
Fonte: Terceira Idade Melhor
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